Num começo.
Sentada com as amigas, formando um círculo, ela me olhava fixamente.
Isso era março de 2003. Ela era caloura e devia estar empolgada com todas as novidades, costumava ser assim. Aquela euforia dos principiantes era conforto para a visão. Mas eu, naquele momento, não me preocupava muito com isso, estava mais interessado em uma segundo-anista da sala ao lado.
Boa parte da euforia, entretanto, acaba sumindo com o tempo e também por isso eu não ligava se aquela atenção poderia ser séria. Quando a ocasionalmente encontrava em shows do bloco I, ela parecia ou alheia ou hesitante.
Em junho, a história supracitada converge para a “tragédia”. A partir de então, desnorteado, eu vagava sem destino, indiferente a qualquer outra coisa. Já era a segunda vez que aquilo acontecia. No ano que antecedeu havia sido... .
É certo que a desilusão causou um furor de sentimentos em mim e que, como consequência, atingiu e machucou as pessoas mais próximas e também aquela sobre a qual é este texto. Eu tinha as manias de não fazer o que esperavam que fizesse, o que era normal, o que era certo, o que era conveniente e de usar as hesitações contra elas mesmas.
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2004 iniciou com a tristeza indefinida normal do último ano – as pessoas começam falando sobre a turma acabar e ficam perguntando uns aos outros se vão sentir saudades, um prazer em antecipar a nostalgia – somando-se à desilusão.
Como de costume, nesses momentos de quase fim, eu não tinha nenhuma expectativa, nenhum plano para o ano, apenas esperar acabar. Este comportamento ficou claro no meu rosto, mesmo que não o entendessem exatamente assim. Alguns me perguntavam sobre meu desinteresse e, quando não tinha mais nada para fazer, tentavam inventar outras soluções para essa questão. Porcos e Coelhos.
Eu tentava inutilmente me afastar das pessoas e acabava me aproximando mais das duas – a jovem desse conto e a de nome estranho, daquele outro, citado ali em cima.
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Ao contrário das outras vezes, nesse ano, eu não tinha nenhum bom motivo para escolher os esportes a fazer nas aulas de educação física. Escolhi os mesmos do ano anterior, mas dessa vez houve uma demanda muito maior, o que causou a expulsão de vários candidatos, inclusive a do nome e sua amiga, porém não do seu namorado.
Este tentava retirar seu nome também, mas o coordenador da área imbecilmente não deixava. Um amigo meu, excluído, por sua vez, queria entrar, pois grande parte da turma estava lá. Então, tomando proveito da oportunidade – outro professor, mais educado, recontava as fichas de inscrição – e da situação, troquei minha vaga com a do amigo e acabei caindo sem querer (querendo) na mesma turma daquela menina.
Eles, aqueles do outro texto, me olhavam com desprezo, condenando minha decisão, achando que eu ainda queria alguma coisa. O que não sabiam é que eu já tinha desistido. Talvez não esperassem por isso – talvez ela não quisesse isso. Mas essa contradição pertence à outra história.
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Pertencente a esta, na sequência da cena, descia as escadas e ia em direção ao grupo de alunos para a primeira aula bate-papo. Sobravam-me poucos conhecidos lá, dos quais não lutava mais evitar a contaminação por suas loucuras e opiniões.
No último degrau, a vi mais na frente, já subindo para o patamar da piscina. Ela e seus semelhantes, do outro ano, tinham para escolha o que mesmo que tive, mas decidiam isso em um lugar diferente. Num relance, olhando para trás, ela discretamente comemorou, pois achava que, mesmo às escuras e por outros motivos, tinha tomado a decisão certa.
Do lado da água, eu olhava aquele conjunto de pessoas do qual queria estar longe e que esperavam muito de mim, afinal era o ano de concretização para eles, quando começam a perceber que aquilo vai acabar rápido. Tirar os óculos e mergulhar talvez fosse melhor do que ficar ali. Porém, lá estavam, de igual modo, além de nos treinos de handebol, outros seres para eu aproveitar meu niilismo.
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No quarto jogo de handebol, o primeiro tempo foi bem normal: um duelo equilibrado, erros de “apitagem” contra (não contando todos os gols que tínhamos feito) e uma atuação medíocre minha.
Na segunda metade, com a inversão de quadra, percebo que, no balcão a minha esquerda, ela estava assistindo ao jogo. Enfrentávamos o time da turma dela. Portanto, de forma a me exibir, passo a jogar bem, não sofrendo nenhum gol até o fim da partida, que terminou com uma bola voando nas arquibancadas e uma confusão conhecida e comentada. Minhas motivações e desmotivações eram bastante incoerentes.
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Existiam muitas tramas em torno dela, como é comum acontecer com adolescentes daquele tipo e eu, então ressabiado, não me aproximava muito mais, porque não queria que se repetisse a ação e reação que já ocorrera em Ícaro. Nenhum aventureiro podia tomar a coroa ou nenhum príncipe ou corte podia-me considerar um aventureiro.
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Com o final do ano chegando como um fim de festa, num período de mormaço que antecede chuva forte, à sombra de um dia em que um braço fora quebrado, depois que, em solidariedade, uma face de esnobismo cedera à fragilidade e à simpatia, houve uma prova teórica de educação física na sala H104.
Aquela avaliação, puramente protocolar, é a última memória daquele tempo, com todo o desconforto rotineiro dos encontros silenciosos de pessoas que pareciam querer explodir em palavras. Entre todas, ela destaca-se por estar muito queimada da praia em que havia estado momentos antes. Era um delírio.
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O temporal que seguiu lavou a História.
(2/3)
Sentada com as amigas, formando um círculo, ela me olhava fixamente.
Isso era março de 2003. Ela era caloura e devia estar empolgada com todas as novidades, costumava ser assim. Aquela euforia dos principiantes era conforto para a visão. Mas eu, naquele momento, não me preocupava muito com isso, estava mais interessado em uma segundo-anista da sala ao lado.
Boa parte da euforia, entretanto, acaba sumindo com o tempo e também por isso eu não ligava se aquela atenção poderia ser séria. Quando a ocasionalmente encontrava em shows do bloco I, ela parecia ou alheia ou hesitante.
Em junho, a história supracitada converge para a “tragédia”. A partir de então, desnorteado, eu vagava sem destino, indiferente a qualquer outra coisa. Já era a segunda vez que aquilo acontecia. No ano que antecedeu havia sido... .
É certo que a desilusão causou um furor de sentimentos em mim e que, como consequência, atingiu e machucou as pessoas mais próximas e também aquela sobre a qual é este texto. Eu tinha as manias de não fazer o que esperavam que fizesse, o que era normal, o que era certo, o que era conveniente e de usar as hesitações contra elas mesmas.
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2004 iniciou com a tristeza indefinida normal do último ano – as pessoas começam falando sobre a turma acabar e ficam perguntando uns aos outros se vão sentir saudades, um prazer em antecipar a nostalgia – somando-se à desilusão.
Como de costume, nesses momentos de quase fim, eu não tinha nenhuma expectativa, nenhum plano para o ano, apenas esperar acabar. Este comportamento ficou claro no meu rosto, mesmo que não o entendessem exatamente assim. Alguns me perguntavam sobre meu desinteresse e, quando não tinha mais nada para fazer, tentavam inventar outras soluções para essa questão. Porcos e Coelhos.
Eu tentava inutilmente me afastar das pessoas e acabava me aproximando mais das duas – a jovem desse conto e a de nome estranho, daquele outro, citado ali em cima.
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Ao contrário das outras vezes, nesse ano, eu não tinha nenhum bom motivo para escolher os esportes a fazer nas aulas de educação física. Escolhi os mesmos do ano anterior, mas dessa vez houve uma demanda muito maior, o que causou a expulsão de vários candidatos, inclusive a do nome e sua amiga, porém não do seu namorado.
Este tentava retirar seu nome também, mas o coordenador da área imbecilmente não deixava. Um amigo meu, excluído, por sua vez, queria entrar, pois grande parte da turma estava lá. Então, tomando proveito da oportunidade – outro professor, mais educado, recontava as fichas de inscrição – e da situação, troquei minha vaga com a do amigo e acabei caindo sem querer (querendo) na mesma turma daquela menina.
Eles, aqueles do outro texto, me olhavam com desprezo, condenando minha decisão, achando que eu ainda queria alguma coisa. O que não sabiam é que eu já tinha desistido. Talvez não esperassem por isso – talvez ela não quisesse isso. Mas essa contradição pertence à outra história.
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Pertencente a esta, na sequência da cena, descia as escadas e ia em direção ao grupo de alunos para a primeira aula bate-papo. Sobravam-me poucos conhecidos lá, dos quais não lutava mais evitar a contaminação por suas loucuras e opiniões.
No último degrau, a vi mais na frente, já subindo para o patamar da piscina. Ela e seus semelhantes, do outro ano, tinham para escolha o que mesmo que tive, mas decidiam isso em um lugar diferente. Num relance, olhando para trás, ela discretamente comemorou, pois achava que, mesmo às escuras e por outros motivos, tinha tomado a decisão certa.
Do lado da água, eu olhava aquele conjunto de pessoas do qual queria estar longe e que esperavam muito de mim, afinal era o ano de concretização para eles, quando começam a perceber que aquilo vai acabar rápido. Tirar os óculos e mergulhar talvez fosse melhor do que ficar ali. Porém, lá estavam, de igual modo, além de nos treinos de handebol, outros seres para eu aproveitar meu niilismo.
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No quarto jogo de handebol, o primeiro tempo foi bem normal: um duelo equilibrado, erros de “apitagem” contra (não contando todos os gols que tínhamos feito) e uma atuação medíocre minha.
Na segunda metade, com a inversão de quadra, percebo que, no balcão a minha esquerda, ela estava assistindo ao jogo. Enfrentávamos o time da turma dela. Portanto, de forma a me exibir, passo a jogar bem, não sofrendo nenhum gol até o fim da partida, que terminou com uma bola voando nas arquibancadas e uma confusão conhecida e comentada. Minhas motivações e desmotivações eram bastante incoerentes.
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Existiam muitas tramas em torno dela, como é comum acontecer com adolescentes daquele tipo e eu, então ressabiado, não me aproximava muito mais, porque não queria que se repetisse a ação e reação que já ocorrera em Ícaro. Nenhum aventureiro podia tomar a coroa ou nenhum príncipe ou corte podia-me considerar um aventureiro.
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Com o final do ano chegando como um fim de festa, num período de mormaço que antecede chuva forte, à sombra de um dia em que um braço fora quebrado, depois que, em solidariedade, uma face de esnobismo cedera à fragilidade e à simpatia, houve uma prova teórica de educação física na sala H104.
Aquela avaliação, puramente protocolar, é a última memória daquele tempo, com todo o desconforto rotineiro dos encontros silenciosos de pessoas que pareciam querer explodir em palavras. Entre todas, ela destaca-se por estar muito queimada da praia em que havia estado momentos antes. Era um delírio.
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O temporal que seguiu lavou a História.
(2/3)
sim, prossiga..
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