sábado, 16 de janeiro de 2010

cop15

Essas siglas em inglês são um tanto quanto sacanas.

O meio que sustenta a vida humana está se dissolvendo.

Cientistas pró-apocalipse, para simplificar os impactos das ações da espécie sobre o bioma, para o entendimento do grande público, reuniram todas as consequências em aquecimento global. Isso explicaria tudo e explica.

Porém, os que pensam de maneira contrária, com essa simplificação, tiveram suas vidas facilitadas. O aquecimento é também uma mudança cíclica natural e medir a culpa de cada um - homem e força invisível que move o universo (não quis dizer deus, cada um escolha o que interpretar) - fica difícil.

Então quem não quer gastar dinheiro com as novas tecnologias limpas (e caras) tem uma desculpa comprovada cientificamente. Aí entra a simplificação do outro lado: descartada a culpa pelo aquecimento, a vida humana não destrói nada na Terra.

Juntando isso com filmes de promoção política - preciso dizer Al Gore? - e com manipulação de dados por pesquisadores, uma conferência sobre a mudança do clima torna-se apenas um palco.

No final, as propostas ali aprovadas são importantes - se implementadas, é claro, visto que, por exemplo, no caso brasileiro, a lei sancionada diz que as metas são opcionais, um paradoxo e tanto, uma lei opcional - e a mudança, nos Estados Unidos, de tratar agora as alterações climáticas como questão de saúde pública foi uma ideia original bem oportuna.

Contudo, os efeitos do controle das emissões de gases são de médio e longo prazo, ficando de fora de qualquer agenda medidas que poderiam ser tomadas de impacto imediato, ou quase. Isso por causa da confusão de jogar tudo na mudança climática.

Por exemplo, o transporte de cargas por navios é um grande problema por inserir seres estranhos em biomas isolados e, com isso, causar a devastação do ecossistema. Eles ficam presos nos cascos ou na água que as embarcações carregam e, ao entrar em contato com as águas de um novo porto, causam o extermínio de outras espécies. Isso poderia ser reduzido se os navios fizessem um processo contínuo de troca de água durante as viagens, porém é um processo caro e ninguém vai querer atrapalhar o comércio internacional.

Também nos oceanos, as populações de peixes e similares apreciadas pelo paladar humano estão se reduzindo para níveis de quase ameaça de extinção. A crise mundial até melhorou um pouco, muito pouco, a situação, mas a pressão por alimentos e matéria-prima básica que havia - que levou o preço às alturas - mostrou que o estilo humano de vida - ou seria american way? - é insustentável se muitos o praticarem.

Todos devem ter um carro, mas se todos tiverem haverá um infinito engarrafamento poluente. Todos devem consumir até hipotecarem suas casas - opa, isso já é outro assunto. Usar a internet e não imprimir nada só transfere a poluição para o consumo de energia dos servidores do google (cada busca gasta o mesmo que a energia para ligar uma lâmpada incandescente de 30W por uma hora). Voar (um voo só) polui o mesmo que um carro utilitário em um ano e navios destroem oceanos (mapas de poluição mostram que onde são as principais rotas comerciais é onde se está mais degradado).

Acho que a solução é encontrar um novo planeta, igual ao atual, e tentar fazer certo dessa vez. Mas também acho que nada mudaria. Ao menos teríamos uns 300 anos para achar outro, outra vez.

Mais fácil é plantar árvores. E os mares? Em Copenhagen, onde um símbolo é a estátua de pequena sereia, deveriam ter pensado mais neles. Há realmente algo de podre no reino da Dinamarca.

Para finalizar este post já maior do que apreciam os leitores, quatro coisas que não consegui inserir no texto normal:

1) Incrível que na Europa, nos primeiros 100 anos revolução industrial, mais ou menos, enquanto se usava carvão vegetal nas indústrias (até que ele acabou lá e carvão mineral é muito mais caro), as principais cidades eram cobertas de fuligem. Os prédios, hoje monumentos, não tinham importância. Só, depois do fim, depois que os lavaram, que a preservação histórica passou a ser algo civilizado.

2) Aquela frase, agora famosa, “a idade da pedra não acabou por falta de pedras” e que estão falando como uma verdade para qualquer era e para falar do petróleo não é sempre válida. A idade do carvão vegetal acabou por falta de carvão vegetal.

3) Uma representação do que me pareceu a tal cop15:

- Precisamos salvar o mundo – diz orador principal.
- Isso aí – exclama a plateia de representantes do mundo inteiro.
- Temos de reduzir a emissão de gases, o desmatamento e utilizar tecnologias limpas.
A plateia vai à loucura, com aplausos, assovios e demais manifestações de entusiasmo.
- Agora – continua o orador – quanto isso vai custar para cada um.
- Ihh – diz um representante de um país de nome engraçado.
- Estados Unidos, 100 bilhões, União Europeia, 90 bilhões, Rússia, 85 bilhões...
- Seu desgraçado, o aquecimento global é uma mentira – alguns começam a se exaltar.
- Austrália, 50 bilhões, Brasil...
- Vai pra... – começa uma confusão, uma briga e então eles aprovam metas opcionais.

4) Dessa cop15, o principal que noticiavam era a pancadaria. O importante era o espetáculo. E o desperdício de água que ficava bem em frente do centro onde a conferência aconteceu, aquela arma não-letal para dispersar manifestantes.

2 comentários:

  1. Esse é o Macelo!
    Gostei do texto (realemnte grande par um post como vc mesmo disse) mas importante mesmo assim!

    Continue postando!

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  2. Este tipo de acordo não vai acontecer. Alguém deve pagar a conta climática, mas acho difícil achar alguém para levantar a mão primeiro.

    Os EUA nunca terão iniciativa neste assunto. Lembram-se de um vídeo postado pelo Diego falando da "História das coisas"? Não se trata de queimar petróleo. Estamos falando de um cenário social, político e econômico movido e sustentado pela desigualdade.

    Estamos falando de um planeta onde quem vai decidir sobre o clima (EUA e China) tem realidades que não coadunam com meio ambiente.

    Em um, falar em saúde publica - ok, privada paga pelo governo - é motivo para chamar o presidente de comunista. Neste 'um', basta olhar para o vizinho mais ao norte para ver que saúde não é sinônimo de plano de saúde. Se "dar saúde" para 50 milhões de desassistidos é comunismo imagina o que será uma proposta de mudança de hábitos .. aliás, de vida?

    A China não dará um passo que a tire fora do caminho de dominação que os tem norteado.

    Esta realidade só vai começar a mudar se as previsões sobre o clima se confirmarem e as pessoas pagarem (inclusive com suas vidas) pela inépcia das grandes democracias em tratar do tema. Só teremos melhoras neste ponto quando a comoção publica for tão grande que gere repercussões políticas e econômicas.

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